Nosso primeiro happy hour: “experimentação e processo” (por Leide Jacob) - FIDS

Nosso primeiro happy hour: “experimentação e processo” (por Leide Jacob)

  05, May, 2022

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Às 17hs, do dia 02 de maio de 2022, em uma segunda feira, também conhecida como “segundona”, começou o primeiro happy hour do 2o FIDS, com apresentações solos que tem como eixos temáticos “Experimentação e processo”.

Marcos Americano, artista convidado (que também participou da mesa inaugural), abriu a sala com “Eu sou Machado de Assis”, ressignificando a literatura, com aspectos da contemporaneidade, usando o próprio convite para participar do FIDS como elemento para dialogar e fazer parte da obra (foto em destaque).

Além do artista convidado, o bloco contou com criações de 14 artistas selecionados por uma curadoria que levou em conta a experimentação, a contemporaneidade e a pesquisa de novas linguagens cênicas.

Com temáticas atuais e emergenciais, foi literalmente uma festa de diversidade e originalidade.

Cris Rezende (São Paulo, SP), com “Violência doméstica”, faz uma performance dramática e irônica para ilustrar a violência dos maridos. Ela aparece ao chão, toda machucada, olhos roxos, de véu e grinalda, ao som da marcha nupcial, chorando, rastejando em direção a câmera. E, quando chega, falece. Forte demais.

Davi Giordano (São Paulo, SP) | “The body wants a little bit of sun of Viña del Mar”

O diretor do FIDS está sentado em um deck, comtemplando o mar, durante o pôr do sol. As mudanças de planos e posições mostram a passagem do tempo em meio a exuberância do sol de Viña del Mar, onde a fotografia é um dos destaques.

Fernando Lopes (Santo André, SP) | “A flor da pele”

Com imagens distorcidas, som psicodélico, ao escuro ou contra a luz, a flor brota na pele. O cuidado com a montagem, fotografia, arte e dramaturgia conferem brilhos especiais. Ao final, as flores na pele.

Gabriela Flores (São Paulo, SP) | “Selva ecoa Medeia”

O vídeo experimental expõe vasos, plantas e cabelos, com textos que remetem à fala e à escuta. “Perdi a voz, preciso dizer… a vida vai indo. Preciso dizer. Você me escuta?”.

Profundo, termina em gritos, urros. O material integra o processo de pesquisa de mestrado da atriz.

Isabelle Gusmão (Recife, PE) | “Ice Crime – This is an ice cream advert”

Mostrando partes do corpo, a atriz se pinta inteira de preto. Com um ângulo mais aberto, em plano médio, ao som de robô, come tinta branca. Ao final “a humanidade está apenas começando”.

Liane Roditi (Rio de Janeiro, RJ) | “Fração”

Atriz deitada no chão, se mexe o tempo todo, ao som de avião, subindo, descendo. Uma viagem, um sonho, talvez um pesadelo diante da passagem do tempo.

Lucio Lima Jr. (São Paulo, SP) | “Para que poesia em tempos de pandemia?”

Com referência ao “O grito”, de Edvard Munch, em um vídeo de recortes e montagens, Lucio conta a vivência na Europa, quando trabalhou como garçom e foi internado em um hospital psiquiátrico. Relatos fortes, de uma vida intensa.

Marcia Fixel (Rio de Janeiro, RJ) | “Rosa dos Ventos”

No chão, diferentes pisos. Inúmeras vozes dizem “não havia diferença entre os pés e o coração. É a jornada”. O caminho é a vida.

Marco Antonio Moreira (São Paulo, SP) | “Abraço à distância”

O artista mostra a restauração de uma imagem de uma negra. Enquanto pinta e conserta a cabeça quebrada, em áudio, um texto poético sobre resistência, “fez da própria situação, renovação: resistia”.

Marcos Davi (Brasília, DF) | “O pão do povo”

Em cores sóbrias, ao fundo, Brasília, os três poderes. Em close, o pão no chão.

Questionamentos sobre o poder, a fome e a justiça de ontem, que chega tarde demais. O pão é decepado. Mas, afinal, “se o pão da justiça é tão importante, quem o prepara?”.

Nina da Costa Reis (Rio de Janeiro, RJ) | “Um Sonho Intenso”

Luzes piscando. A artista está com a cara tampada por um papel laminado. Com uma tesoura, corta a parte que lhe cobre a boca, deixando a língua para fora. Come uma banana. A performance se alterna com Ray Conniff e sua orquestra tocando “Aquarela do Brasil”.

Oliver Olivia (São Paulo, SP) | “Cabra”

Em plano detalhe de sua boca, com um texto preciso, expõe questões sobre sexualidade e identidade de gênero. Marcante e forte.

Priscila Queiroz (Fortaleza, CE) | “Varrida”. Remédios caem na bandeja, que ela separa de dois em dois, nos saquinhos. Uma voz diz “pode pegar”. Ela engole os remédios e bebe um copinho de água. Em diálogo com falas de terceiros, Priscila expõe a loucura como uma realidade que “muito tempo tratei como segredo”. Varrida, de louca varrida. Que potência.

Priscila Rosa (Porto Alegre, RS) | “Corpo Capsular”

Com partes de seu corpo à mostra em planos detalhes, a atriz se toca. Retira da boca uma linha, que não para de sair, como um fio que vai se desvendando. O desenrolar o fio é um movimento de encontro, de autoconhecimento. Afinal, o labirinto está em nós.

Como pontuação geral, Denise destacou a originalidade de cada uma das obras apresentadas. Todas se identificam com seus próprios artistas, cada uma da sua forma, com a sua estética, com informações e camadas que podem ser interpretadas como o espectador quiser.

Denise deu ênfase na dramaturgia, realização e entrega dos artistas. A coragem em se fazer ouvir e ver, trazendo aspectos pessoais e sociais, elementos comuns a todos.

O público vibrou e se emocionou.

Foi lindo.