Cores de Van Gogh Um ator (por Teresa Costalima) - FIDS

Cores de Van Gogh Um ator (por Teresa Costalima)

  07, May, 2022

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Um espaço. Um alguém pra ver. Elias Andreatto. Uma peça gravada. Um festival on line. O Festival é de solo-performance. Logo, foco no ator. O ator corpo-voz-tudo. O ator! Elias Andreatto dá seu-corpo-voz-tudo a Vicent Van Gogh, especificamente a partir da correspondência entre Van Gogh e seu irmão Theo em espetáculo dirigido por Márcia Abujamra. O ator reina, mas quero comentar a encenação, levando aí em consideração todas as figurinhas do álbum: cenografia, iluminação, elementos de cena. Pois a encenação de “Van Gogh” é rica na sua frugalidade. Tudo pouco, muito pouco mesmo. Mas tudo que baste. No minimalismo da cena, pequenas coisas ganham potência. A cadeira, diretamente de um velho quarto em Arles, é todo o cenário e por termos visto tanto a cadeira no quarto em Arles nossa imaginação completa o local. E o quarto era tão pobrinho, e o artista não vendia seus quadros, e contam por aqui que era doido, e me peguei imaginando as noites sem sono (imagino, não sei) naquele quartinho meio torto, imagino que fumasse, imagino que desejasse ser amado. O quarto – seu mundo e a cadeira – o quarto. E uma cadeira é suficiente, uma cadeira fala, traz memórias, traz fantasias… Pequenos elementos ganham tamanho, a desordem da mente em papeis no chão, uma vela solitária, solidão, o chapéu de palha e a orelha decepada que ali não estava. O figurino, mais que roupa – um desmazelo, pé calçado, pé descalço. Vicent me inspira dó, dá uma vontade de pôr no colo e cuidar. Vontade de contar que um dia suas estrelas, suas flores e até seus corvos, valeram milhões. Deixo por último a iluminação, que em sua simplicidade me levou para dentro dos quadros com a cor! Cores de Van Gogh, com seus amarelos, com seus azuis. Vi girassóis de velas. Vi sombras melancólicas. Vi uma mente perturbada. A luz abraçava o ator. Vi ali Van Gogh em uma interpretação que não buscava ser mimética, antes ser simbólica. Vi uma encenação que não buscava ser exorbitante, antes ser essencial Eita que coisa poderosa que é coisa sintética!