Compro Gritos e Palavras (por Tina Andrigueti)

  03, May, 2022

  1 Comentário

Escolhi discorrer sobre o espetáculo “Vendo Gritos e Palavras”. Ou sobre Denise? Mas é tudo o mesmo, ok? Pois Denise não reproduz nada, mas transforma em al go muito seu tudo o que vem pras suas mãos. Escreve, reescreve, concebe, dirige, atua sem nunca delegar ao outro o que deseja fazer. Denise é o espetáculo. 

Assisto então à Denise-espetáculo, acho que pela terceira vez e dessa vez aconteceu algo mais dentro, reverberado também por muitas das pessoas presentes: “mexeu com cada célula”, disse uma espectadora, buscando dar a dimensão do impacto. Como descrever algo tão bom de assistir, mas que é ao mesmo tempo incômodo? Que faz rir muito ao mesmo tempo que é profundamente dramático? Sim, Denise-espetáculo deslocou os micro espaços internos e os “entres” também.

As palavras de Cortázar são as condutoras do espetáculo. E não permitisse a linguagem do autor explorar todos os níveis de sentido, Denise “cavaria” múltiplos sentidos a cada palavra pronunciada. Já sabemos, corpo e palavra são indissociáveis nela, jamais ilustrativos. Teatro, pra ela, é garimpo. Corpo-verbo, corpo-palavra, em que sentimentos e emoções compõem-se cenicamente, de forma única, embalados por sonoridades pensadas cirurgicamente. É preciso que seja ali, naquele exato momento.  

Denise encanta. É tanta presença que às vezes não dou conta de absorver tamanha grandeza em cena e fora dela. Impossível ser indiferente. E essa condição é a melhor parte da relação.