O cu é uma festa! (por Teresa Costalima)
  06, May, 2022
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O dia segue movimentado, sigo para a Oficina de Morgana O. Manffrin. Confesso a curiosidade por sua foto. Agulhas e alfinetes costumam me impactar mais que nudez. Morgana me surpreende pois em contraposição as agulhas encontro uma doçura encantadora. Ainda me confundo com certas cenas, onde começa, o quê é o quê? Morgana aplica-se uma dose de hormônio as vistas de todos. Fala de sua transição de gênero. Tudo de muito íntimo. Coloca em seu rosto as agulhas. Tudo muito espetacular. Fala a menina. Ao mesmo tempo fala a professora, a acadêmica doutoranda que cita Josette Feral. Corpo dramatúrgico. Jogos. Jogos de improviso. Jogos de autoconhecimento. Escrita automática. E eis que chega o vídeo! Morgana pergunta se tem alguém menor de idade, se alguém se importa com nudez… estranho a preocupação, depois entendo. Mais que genitais, o ânus causa impacto, pudores, desconcertos. Onde o sol não bate. Onde ninguém vê. Descontando a pornografia, é claro! Mas em cena? Em close? O cu? A vídeo-performance mostra o cu como protagonista que interage com inusitados pares: pirulito, flor, vela. Por vezes abstraio completamente a região anal tinta de vermelho rubi, vejo um ballet, imagens soltas, cheias de significados, meio que um teste de Rorschach, meio que um quadro cubista. Por vezes me pareceu que o cu era o coração pulsando, um cu ativo. Pena que as câmeras estavam fechadas, adoraria assistir ao público. No bate-papo noto como a percepção da audiência é curiosíssima – O que o cu significa para cada um? Como se relaciona com suas histórias de vida? O que o vermelho-parece-sangue diz a cada um? Flor o que diz? Vela acesa o que diz? O cu é tabu? Prefiro parafrasear Galeano – O cu é uma festa!