Palco Aberto 9: sextou com entregas, ousadias e pau
  25, Aug, 2022
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Às 22hs, do dia 06 de maio, sextou no Palco Aberto do 2º FIDS. Com circulação em picos, a sala chegou a ter cerca de 40 artistas interessados em experimentar e compartilhar obras.
Carolina Leopardi Bastos foi a primeira. Solou ao vivo. Em cima de um tapete, com a cabeça dentro da moldura de um quadro, repetia “estou há tanto tempo aqui”. Protestou com o tapete, que, no verso, exibia em letras grandes “ei vacina sus”. Desenrolou-se. Circulou, deitou-se, fez movimentos com os braços e pernas, nadou. “Estou há tanto tempo aqui”. Carolina confessou que esta foi a primeira vez que apresentou este solo pelo zoom. Disse que está criando um espetáculo com influência do Teatro Essencial. Denise elogiou o figurino, a ideia do enquadramento, e disse “vá em frente”!
A próxima foi a Laura Lavorato, que está sempre por aqui. Apresentou performance em vídeo. Com música forte, a personagem, duplicada pela tela bipartida, tira a máscara, mostra a cara pintada de branco, coberta com uma rede. Sintético e intenso.
Saulo Schwartzmann, novo no pedaço, pegou o violão e cantou uma música do disco que está lançando neste ano. Falou da esposa, Carolina Tomasi, que é escritora e tem um programa de entrevistas chamado “nas vozes delas”. Saulo, feliz, revelou que era seu aniversário. Cantamos parabéns para ele. Momento fofo.
Ana Luiza, nossa produtora, pediu a palavra para falar do Ivan Antônio, o próximo que se apresentou. Ela o convidou para esta noite e declarou-se fã. Poeta, músico, diretor de teatro e criador do “Teatro da solidão solidaria”, um método que se utiliza da mediação e resolução de conflitos para promover inclusão social por meio da arte, Ivan apresentou duas obras. Primeiro, um vídeo com trecho do espetáculo “Canção dos condenados” (foto em destaque), que começa com um grito “Condenados a morte por um crime que não cometemos”. Os personagens estão encarcerados. Há uma grade entre eles e o público, com uma placa “condenados a morte”. A filmagem foi em Guimarães, Portugal. A obra é uma campanha contra a pena de morte. Em sua segunda apresentação, Ivan Antônio leu um poema que começa assim “Além da seca, há a seca …”. Forte e emocionante.
Paulo Fisher, ousado, disse “este solo é um fruto que nasceu deste encontro, me senti um percevejo na descoberta do FIDS”. E assim, olhando para a câmera, começou uma conversa sem emitir som, como se estivesse contando algo. Olhou para outros pontos da sua sala e continuou nessa conversa sem som. Tirou os óculos, que fizeram um barulho, quando os colocou em algum lugar, ali perto dele. Percebi que não se tratava de um problema de captação de som. Porque gerou uma desconfiança geral na sala, as pessoas pensavam que havia algum problema técnico. E ele continuou. Conversou, argumentou, olhando para o horizonte e para a câmera, falou o tempo todo sem voz. Ao final, gritou sem som algum. Angustiante. Depois de 5 minutos, desfez a expressão facial e disse para todos “Muito obrigado”, agora com voz. Denise, astuta, sorriu e disse “que texto interessante você nos trouxe”. Rsrsrsrss. O Paulo provocou reflexões. Quanto aprendizado, sem uma palavra. Muito bom, foi uma apresentação incrível!
O Maury, nosso produtor chefe, deu o ar da graça para dizer um oi e reforçar “tá tudo bombando”, com uma taça de vinho na mão.
Na sequência, Adriana Bacalhao performou ao vivo “mercúrio”, em homenagem a Eliane Brum. Ela, com o rosto pintado, manipulou farinha que estava em cima da mesa. Disse “ouro, mercúrio, pertencimento, propriedade, propriedade …”. Fez referencias à Altamira, aos índios e ao povo da floresta. Jogou a farinha no rosto, tampando-o com pó branco. Falou confiante “Tô completamente cega, cega cega, não consigo ser nada. Estou cega de natureza”. Solta um intenso grito soprano, toca um chocalho e mergulha seu rosto na farinha. Aplausos intensos. Adriana se retamou, ops, se entregou, lindamente.
Solange Rissoglini, animada, relembrou do livro “José e outras histórias”, que lançou recentemente e já comentou aqui. Voltou para contar que, para não ‘acabar’ com o ex-marido, fez uma poesia para ele e a colocou na contracapa. Rsrssrs, muito bom. Começou dizendo “Roubei para mim tudo o que era seu, os amigos, os tios, sua mãe e sua cidade também… ”. Que ressignificação maravilhosa, Solange. Ela emendou com uma cena do espetáculo “lugar algum”, que está preparando. “O seu poema é muito bom”, Denisecomentou.
E chegou a vez do Wallace, que disse “A Tina me faz pensar em escrever. Então trago aqui um primeiro experimento de ‘Rascunho para Lilith’, com a introdução de uma letra de música do Walter Franco. São as primeiras linhas de uma possível Solo Performance”. No meio do texto, falou “vinho, não é Maury?”, improvisando com humor. Ah, Wallace como é uma delícia ouvir sua voz, sua poesia, sua expressão. Contagia a todos. Seu solo germinou potente no Palco Aberto do FIDS.
Casa cheia, plateia quente. Para alegria geral da nação essencial, Davi anunciou mais meia hora de Palco Aberto. Uhuuuuuu!
Depois das comemorações essenciais por mais meia hora, Jane Virmond leu um trecho de “Desastres de Sofia”, de Clarisse Lispector, em homenagem à Denise Stoklos. Em uma sala escura, com iluminação apenas no rosto, Jane fez uma leitura segura. Denise elogiou a interpretação.
Luciana Teoro, cantora e compositora de Ribeirão Preto, pela primeira vez no Palco Aberto, leu “Ratos”, letra da música que recentemente compôs. É um poema de protesto e arrancou aplausos.
Ana Luiza, produtora, entrou novamente, agora para apresentar o Cacau, que também convidou para esta noite. Ele é multiartista, músico, poeta e artista plástico. Cacau mostrou o seu ateliê, que fica na Rua Minas Gerais, equina com a av. Paulista, em São Paulo. E começou “A lua se mistura com a fumaça …”, passeando por meio de inúmeras obras, dialogando com o texto. Em um dado momento, pegou o violão e cantou uma canção emendada com música dos Titãs. Passou por um baú e tirou um papel embrulhado e disse “a borboleta poética com uma mensagem”. Ah, vem daí a tal borboleta, né, Ana? Em um dos primeiros Palcos Abertos, a Ana falou “qualquer hora eu mando as minhas borboletas poéticas”. Entendi a influência. Cacautambém mostrou um vídeo curto que ele produziu. Dois personagens com os rostos pintados e boca com zíper, “plantei poemas no meio da cidade, fez brotar amor”. Muito interessante.
Anésia Barradas mostrou dois vídeos. O primeiro “Não me provoques, só quero o essencial”. E o outro, em uma sala, com um violão ao lado, ela em um canto, em pé, declama “Só tambor (…). Só quero ser tambor ecoando uma canção (…). Dia e noite, só tambor. Deixa-me se tambor, só tambor”. Textos lindos, Anésia.
Wilson Loria apresentou um vídeo com o trecho de um espetáculo, onde dele está com a cara pintada, de touca na cabeça, com uma saia do tipo bailarina, tocando acordeon. Ah, deu vontade de ver mais, Wilson. Denise lembrou que o viu em Nova York, “um espetáculo lindo em que ele tocou nosso bife no Acordeon”.
Para finalizar com pau de ouro, o Davi leu o “Manifesto do Pau Essencial”, sua versão do “Manifesto do Pau-Brasil”, em referência aos cem anos da semana de Arte Moderna e também uma homenagem ao Teatro Essencial, à Denise Stoklos, com citações sobre a sua trajetória e obras. Emocionante ouvir o Davi. Empolgação e alegria contagiantes.
Viva o FIDS!