A Memória e seus Recursos Vitais (por Sarah Oliveira Carneiro) - FIDS

A Memória e seus Recursos Vitais (por Sarah Oliveira Carneiro)

  05, May, 2022

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Denise Stoklos está em nossa memória. E ela própria, que nos é memória viva, porque quem a conhece jamais a coloca no contrário da memória, se debruçou, ontem, na ideia de memória para mais uma vez nos brindar com suas palestras repletas de força e de ensinamentos.

Os geniais alcances reflexivos aos quais Denise chega por meio da sua observação de mundo reverberam em nosso íntimo de um jeito absolutamente único, e não tem como ela não se tornar referência em nossas andanças pela vida e pela lida. E se tornar referência tem a ver justamente com não esquecimento.

Sim, repito: de Denise não se esquece jamais. Ela fica, ela permanece. Mas, aviso: não foram os verbos “ficar” e “permanecer” que atravessaram majoritariamente sua fala sobre memória no FIDS.

Denise, como sabemos, opta por mergulhar na carnadura das palavras; lhe apraz colocar os dois pés no solo das temáticas, no palpitar das questões, e fazendo isso, ela sempre encontra jeito de tratar de um assunto de uma forma que venha a gerar ideações absolutamente diferentes das já construídas, ainda que esteja a tratar de algo conhecidíssimo, como é o caso da memória.

Sendo assim, da memória – vimos – interessa à Denise abordar sua camada de responsabilidade e, por isso, ela se dispôs, ontem, a plantar em nosso ser a possibilidade de nos indagarmos coisas, como: “eu ativo quais memórias neste mundo desordenado?” e “qual a minha responsabilidade ao atuar”?

No mesmo movimento de associar memória à responsabilidade, Denise se propôs a nos informar quais rituais são necessários para os enfrentamentos que devemos fazer para chegarmos à desejada igualdade, e em suas quatro palestras ela girou em torno de todas os componentes que compõem um festival.

E aí… ela falou da própria necessidade de um festival, e esta necessidade tem a ver com a necessidade primária de tratarmos temas atuais; a necessidade de ser um festival a arena onde podemos começar a moldar o que vai nos colocar no passo adiante em direção ao mundo digno para todas e todos com o qual sonhamos.

Ela abordou também o espectador, o qual, nos assegura ela, está sedento por ser guiado pela mão cênica do artista, e deste modo poder revirar tudo dentro de si e abandonar a neutralidade. Denise também se voltou a cada performer novo, lembrando aos que chegam ao território expressivo da performance que há possibilidades de novos olhares, novos encantos, novos gestos, novos horizontes.  

Algo que me parece extremamente válido de ressaltar tem a ver com a ligação que Denise faz entre performer, performance e espectador, porque se, para ela, o performer deve entrar numa performance consciente de que seu fazer pode mudar o mundo, é de se esperar que o espectador queira ter suas certezas abaladas, seu imaginário bagunçado, e a partir daí continuar sua rota de imersão no refinamento da sensibilidade.