Arte Eterna (por Maria Prado de Oliveira) - FIDS

Arte Eterna (por Maria Prado de Oliveira)

  21, Apr, 2022

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“A impermanência de todas as coisas”. Nunca este fundamento budista esteve tão escandalosamente flagrante nestes tempos d’agora.

Nada a ver com religiosidades, serve para pessoas crentes e ateias. 

Mas o Essencial é pleno e perene em si. E o Essencial tem começo, meio, fim e recomeços, o Teatro Essencial é assim.

1987

O Manifesto do Teatro Essencial lança um manancial de luzes nas artes cênicas do mundo.

Denise Stoklos, sua criadora, pensadora eloquente, artista genial, educadora poderosa, nos diz, entre outras pérolas: ” (…) Com raiva decreto o fim do excesso. A pirotecnia mente. Quero sinceridade. No lixo o broche. No palco o peito. (…)”

Diz tanto, diz o que é preciso, o que atravessa tempos, diz: “(…)Aceito o fim do meu século como presente de poderosos: somente karmas autônomos o enfrentarão com criatividade e vitalidade. A verdade assumiu-se como passaporte para o século XXI.(…)”

Creio ser fundamental ler na íntegra este Manifesto tão atual. Para quem não conhece, podemos também achar preciosidades assim (como essa) nas redes sociais.

Um desafio eterno nas impermanências de tudo é colocar a teoria em práxis. Ser intensamente o que professa, agir  sem lançar palavras em vão.

No universo do Teatro Essencial onde amor, autonomia e liberdade são princípios assumidos em suas inteirezas, tudo isso facilita que cada ação esteja em uníssono com textos, subtextos, mente, corpo, voz, movimentos… 

O movimento é verdade!

2000

Quando há um encontro entre Essenciais, recomeços fluem trazendo as raízes de novas sementes.

O  Superlativo Professor Milton Santos e Denise Stoklos tiveram um encontro promovido pelo jornal Folha de São Paulo.

Num pequeno trecho:

*Milton Santos – “(…)Essa força, digamos, de esquecer, de ser original, só a emoção permite. E ela então passa a ser um dado do pensamento, não é a razão que produz o grande pensamento. E aí é preciso caráter.(…)”.

*Denise Stoklos – “(…)Num país como o nosso, quem não tem compaixão está morto, literalmente.”

Com tantas Mestrias pelos tempos afora, mesmo na transitoriedade de todas as coisas, quando nos é dada a oportunidade de encontrar essas ideias, genuinamente humanistas e libertárias, o alimento mais saudável segue entrando nas nossas veias pelo viés da alma.

2022

“(…)Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.”, disse Drummond no seu poema “Memória”.

Agora é a segunda edição do FIDS – Festival Internacional Denise Stoklos de Solo Performance, que vai acontecer online entre 2 e 8 de maio com espetáculos, palestras, oficinas… Arte sem limites!

Nesses tempos de tantas atrocidades, temos uma artista “brasileira do mundo”, septuagenária vigorosa, com mais de cinco décadas de trajetória artística, apresentações do seu repertório em mais de 30 países, pensadora profunda, que, além da sua obra nos palcos, em livros, e dos seus cursos (online e presenciais), nos dá, das coisas lindas que ficarão, um Festival artístico.

Escrevo este texto para o Pré-FIDS, ações que vêm acontecendo antes do evento em maio. Escrevo com alegria, honra e agradecimentos, estar perto desse universo stokleano é bálsamo, aprendizado, crescimento artístico e pessoal.

Agora é hora de podermos assistir a “Abjeto-Sujeito – Clarice Lispector por Denise Stoklos”, trilha com Elis Regina, sob a direção de Elias Andreato, em temporada no Sesc 24 de Maio até 3 de abril. Quem estiver em Sampa vai poder vivenciar essa beleza.

É hora também de lembrar de um dos tesouros de Clarice: “Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome”. Atrevo-me a dizer: Clarice, amada, encontrei o que você procurava… Chama-se Denise Stoklos!