Imaginar é um verbo revolucionário! (por Teresa Costalima) - FIDS

Imaginar é um verbo revolucionário! (por Teresa Costalima)

  05, May, 2022

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Montei camarote, tirei o dia, mergulhei no FIDS. Sempre gostei da energia que acontece em festivais, aquele momento concentrado, um universo dentro, uma vida espelhada com pares de tantos lugares, sotaques e experiências. Amanheço em Irati, e é tão curioso ouvir da infância de Denise, do namoro que acabou em sua adolescência, da família, chuteiras e viagens de moto. Acredito na nossa origem na nossa cena, cada um com a sua e todas com sua potência. Fantasio que ano que vem irei a Irati. Mas ao mesmo tempo penso em rede e alcance, coisa que um festival virtual possibilita sem limites. Assisto a oficina de Rita Clemente, me encanta o Clementina, seu espaço, e lembro do meu, para onde ainda não voltei plenamente. Observo como uma mesma provocação, sintética, simples, “uma vaca que não conhece o mar e gosta de cheiro de bosta”, em tão poucos minutos se torna célula de criação, e surge uma imensa diversidade, a vaca dança, a vaca é moça, a vaca é rapaz, a vaca é triste, feliz, cada sotaque mostra nossa diversidade. Cada célula pode vir a ser uma cena. Eu esperava este dia para ver amigos, pessoas que admiro e por quem tenho afeto, Wander B. e Ricardo Castro. O solo em casa, feito durante a pandemia, “O inferno é um espelho de borda laranja”. Acompanhei a feitura do projeto ao longo das trocas com Wander no curso de Denise. Wander B., figura ímpar por quem me encantei. Um ator, seu discurso, uma câmera, luz e sombra. O tema me espinha, vivi o drama da insônia diversas vezes e todos os pequenos signos e tic-tacs me recordam o inferno. Com o minimalismo levado ao extremo, nem corpo todo, nenhum elemento, além de luz e sombras, Wander me encanta em miligramas e mililitros. O diálogo com o pai, deixando o incentivo a beira da morte é de impacto único: arregaça! Ricardo Castro está em cartaz a poucos minutos de minha casa, é um ator que já assisti muito e com quem já trabalhei, que traz uma linguagem que adoro…. e fui assisti-lo no FIDS… coisas e coisas que acontecem. Pois vi “Quixeramobim” gravado. Não percebo perda, apenas outra coisa sem o presencial. Ricardo me surpreende, sim, ainda, pois não conhecia seu viés paterno e na relação com a filha Maria Clara vejo uma outra faceta. Que mágica isso do teatro de sempre se reinventar. O minimalismo que sempre o acompanha ganha uma imensa elegância com o vestido branco e bandeirolas. O que mais me seduziu foi a pluralidade de sotaques, vozes tantas, somos nordeste e cada estado soa diferente. Soa cordel e soa frevo. Pinço frase bonita, já que muito gosto de pinçar: “imaginar é um verbo revolucionário!”, uauuu, isso é massa. E não posso deixar de pinçar para encerrar… “Põe um frevo nisso!” Ponhamos!!!!